Palavras – Por Monsenhor JosĂ© Ăgius

âPois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que Ă© Cristo, o Senhor.â (Lucas 2:11)
Anjos se ocuparam de anunciar o nascimento de Jesus a alguns pastores no campo. Foi em BelĂ©m, uma das aldeias de JudĂĄ, sul de Israel. O local nĂŁo foi o mais adequado, o perĂodo tambĂ©m nĂŁo. Seus pais estavam em plena viagem para o recenseamento exigido pelo imperador. De improviso, numa manjedoura, Ășnico local disponĂvel. Nenhuma hospedaria disponibilizaria um leito para uma mulher grĂĄvida, nos dias de ter a criança. Pela Lei de MoisĂ©s, o local do parto ficaria impuro por uma semana, e como a cidade estava cheia, seria um enorme prejuĂzo ao dono.
Mesmo naquele local, guardado pelos seus pais, observado pelos animais, envolto em panos, recebeu a visita de magos, guiados pela estrela, vindos do Oriente. Não se sabe quantos, o que sabemos é que eles o presenteou com ouro, incenso e mirra. Ali estava uma criança. Para alguns, outra como muitas. Mas para os que conheciam a promessa, era o prometido, o Cristo de Deus, o Salvador do mundo.
Ă por conhecer a promessa que nĂłs, discĂpulos de Jesus, nos alegramos tanto com o Natal. Olhamos para aquela manjedoura e percebemos ali, de carne e osso, no seio da sua mĂŁe, o favor do Deus Eterno. Jesus, o filho de Deus, Ă© a materialização do amor. A Trindade Santa encarna para fazer cumprir o projeto de levar toda a raça humana de volta ao Pai, nos livrando da morte, do pecado, da desumanização.
Por isso nĂŁo Ă© exagero nenhum celebrarmos o Natal com tanta ĂȘnfase. Luzes, ĂĄrvores, cançÔes, trocas de presentes, famĂlia reunida, ceia. Tudo isso sĂŁo sinais que apontam para o menino Deus, filho de Maria e JosĂ©. Os cristĂŁos ao longo dos sĂ©culos fazem questĂŁo de celebrar tudo isso.
Porém, para não perder o sentido, para não deixar que a festa de aniversårio seja mais importante do que o aniversariante, é interessante, pelo menos por um momento, voltarmos à simplicidade do evento inicial. Mesmo sendo Deus e podendo nascer da mulher mais poderosa do mundo, escolheu a humilde Maria.
Mesmo podendo proporcionar a maior recepção que o mundo jå viu, digna dos reis, foi numa desconfortåvel viagem, numa simples aldeia, nos fundos da casa de um aldeão. Mesmo podendo ser anunciado em todas as naçÔes do mundo, para ser recebido pelas figuras mais ilustres não só de Israel, mas de Roma e do Egito, as naçÔes mais importantes da época, Ele foi recebido por simples pastores, magos e camponeses.
O Senhor dos céus e da terra fez isso, provavelmente, para nos ensinar que Ele não precisa do trono dos reinos, honrarias formais ou ostentaçÔes materiais. O Mestre não veio construir e nem tomar posse de Impérios humanos, Ele veio reinar em coraçÔes. Por isso, a forma mais adequada de se celebrar o Natal é fazendo dos nossos coraçÔes uma manjedoura.
Se o Cristo nĂŁo nascer em cada um de nĂłs, perde-se completamente o sentido da festa. Jesus nasceu para nos dĂĄ vida, a vida de Deus. Ele Ă© a porta de acesso a comunhĂŁo. ComunhĂŁo com Deus, nos livrando da religiosidade e paganismo. ComunhĂŁo com o nosso prĂłximo, nos livrando do egoĂsmo e individualismo. Se junto com as luzes, ĂĄrvores, trocas de presentes, ceias e cançÔes, Jesus nĂŁo nascer em nĂłs, tudo isso nĂŁo passarĂĄ de uma festa, simples festa do consumismo, da glutonaria, da ostentação e da hipocrisia. Os discĂpulos de Jesus nĂŁo esquecem da festa e muito menos do festejado, do aniversariante, do Salvador, que Ă© Cristo, o Senhor.
Um Feliz Natal.
(Låzaro Sodré)