Histórias do Padre Zé
Seguindo as orientações pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), começaram a se reunir os primeiros “Grupos de Reflexão” a partir de 1973 e, então, víamos a necessidade de dividir a Paróquia em setores pastorais. Assim, a Paróquia São José ficou dividida em 16 Comunidades urbanas e quatro Comunidades rurais. Em cada Comunidade funcionavam diversos grupos de reflexão, grupos de jovens, catequese das crianças, movimentos e associações de leigos e Promoção humana e social. Em algumas Comunidades maiores da periferia sentimos a necessidade de termos locais próprios e adequados para reuniões de formação e celebrações litúrgicas. Com ação conjunta da Comissão da Matriz e as Associações dos Bairros, foram adquiridos terrenos e construídos salões em diversos bairros: Jardim Teresópolis, Jardim Santa Mônica, Jardim das Flores, Jardim Caviúna, Conjunto Arnaldo Buzatto, Vila Operária e Jardim Planalto.
Depois dos sérios problemas surgidos na política agrícola a partir de 1975, devido à forte geada que dizimou as plantações do café, houve no Município um êxodo rural muito acelerado, determinando o inchamento do centro urbano e resultando na quase marginalização do homem, uma vez que a cidade não estava preparada, industrialmente, para empregar tão grande fluxo de gente rural. Isto aumentou, consideravelmente, o número de trabalhadores volantes (boias frias), socialmente desprotegidos e desamparados.
Em consequência, seus filhos adolescentes, sem o devido preparo e sem orientação adequada, não encontrando trabalho, ficavam perambulando pelas ruas sem opções e se entregando à droga e a outros vícios, assim criando graves desentendimentos com seus familiares.
Exatamente neste cenário é que teve início dos chamados “Cinco Conjuntos”, numa área distante do centro da cidade, saída para Arapongas, começando com o Conjunto San Fernando, que era “Sítio San Fernando”, de propriedade de Manoel Flores Segura, ao lado do bonito lago San Fernando. E foi neste ambiente que a Paróquia iniciou seu trabalho pastoral:
1) Implantação da “Pastoral da Criança” para crianças de 1 a 8 anos e suas mães e demais familiares, coordenada pelo casal Aparecida e Marcelino Borges Machado, coadjuvados por Jessé Fernandes – uma sala de tábua servia para todas as atividades sociais e religiosas.
2) Projeto SOAME que atendia crianças e adolescentes a partir dos 6 anos de idade nas suas oficinas de música, teatro, capoeira, dança, etc. Atendia as mães e demais adultos com cursos de corte e costura sob a orientação de um grupo de voluntários, coordenado pela Maria Luiza de Oliveira Müller – usávamos salinhas próprias e também a Escola “San Fernando”.
3) Formação de um grande e ativo grupo de jovens chamado “EVANGELIZ’ ART”, que reunia jovens toda semana para momentos de oração e estudo de danças “hip-hop” e capoeira, sob a coordenação do Nenão e do Kadú. Neste grupão surgiu o “Jovens Para Cristo – JPC” para animar missas com suas danças litúrgicas.
Em meio a tudo isso, a população local sentiu a necessidade de ter uma igreja e um centro social adequados. Fui, então, sondar um terreno ao lado da Escola San Fernando, beirando o lago, pertencente ao poder público, mas o Governo Estadual indeferiu meu pedido. Aí apareceu negócio com o “Clube do Pica-pau”, que tinha campo de futebol no Jardim Aviação, beirando a rodovia. Foi providencial! Com a ajuda e palpite dos representantes da Comissão da Matriz, Eliseu de Paula e José Antônio (Nico) Vanzella, adquirimos aquele terreno onde, hoje, se encontra a imponente igreja da Ressurreição com seu Centro de Pastoral “Santa Dulce dos Pobres”. Certamente foi uma escolha maravilhosa porque aquela região progrediu muito e é composta por mais de 10 conjuntos.
Convidei o Miguel Abrão, que era integrante da Comissão da Matriz, para coordenar, junto com uma Comissão local, os trabalhos da construção da nova igreja com projeto arquitetônico de Catarina Schauff Zanetti. O nome de Miguel Abrão ficou marcado pelo dinamismo e dedicação com que conseguiu construir esta igreja no espaço de um ano. A pedra fundamental foi lançada aos 30 de março de 1997, conforme consta no cruzeiro erguido na frente da igreja e inaugurada aos 12 de abril de 1998, ambas as datas era a Páscoa da Ressurreição.
Foi dado o nome de “Igreja da Ressurreição” exatamente para valorizar aquele povo simples e humilde que mora nas redondezas. Um povo que ressurge para realizar grandes projetos. Na Ressurreição de Jesus, a ressurreição do povo.