Por Monsenhor José Ágius
No Evangelho escrito por São Mateus, capítulo 18, encontramos uma das parábolas sobre a misericórdia, contada por Jesus e muito conhecida por todos nós. Pedro se aproxima de Jesus e lhe pergunta: “Quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Talvez Pedro estava preocupado apenas com suas questões pessoais, mas Jesus vai muito além da compreensão de Pedro. A medida de Jesus é o amor misericordioso do Pai, que ele conhece muito bem. Por isso, sua resposta desconcerta a Pedro e demais discípulos: “Não te digo até sete, mas setenta vezes sete”. Com isso, Jesus quis dizer que devemos perdoar sempre…
Estamos na Quaresma. E Quaresma é tempo de arrependimento e de perdão. É preciso perdoar sempre, para sermos também nós perdoados pelo Pai Celeste. Mas, estamos nós dispostos a perdoar nosso irmão até setenta vezes sete? Ou, somos capazes de pedir perdão as mesmas setenta vezes sete? A misericórdia é o limite do perdão. E o modelo do nosso perdão é o amor misericordioso de Deus. Por isso, também Jesus nos diz que, se queremos que Deus nos perdoe, devemos também nós perdoarmos a quem nos ofende! Perdoar assim como nós somos perdoados!
Afirma o Papa Francisco que “Deus nunca se cansa de perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir perdão”. Ainda, precisamos lembrar o quanto nos é difícil perdoar-nos uns aos outros. É forte e impressionante a figura tirada de Santo Agostinho para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (João 8,1-11) e que dá o título à Exortação Apostólica do Papa Francisco que encerra o Jubileu Extraordinário da Misericórdia: “Misericórdia et Mísera” (Misericórdia e miséria), sintetizando o mistério do amor do amor de Deus vindo ao encontro do pecador. Ficaram ali, frente a frente, no descampado do Templo, apenas os dois: Jesus, o rosto misericordioso de Deus e a mulher acusada de adultério. “Alguém te condenou?”– “Ninguém” –“Nem eu te condeno. Vai e não peques mais”! Encontro misterioso: Da misericórdia com a miserável.
Perdoar é romper as barreiras que impedem a comunhão fraterna. Que o Senhor possa nos fortalecer no caminho da misericórdia durante esta Quaresma e sempre!
Monsenhor José Ágius