Pesquisar
Close this search box.

Quem lê pensamento, vê coração

  1. Home
  2. /
  3. Notícias
  4. /
  5. Colunas
  6. /
  7. literatura
  8. /
  9. Quem lê pensamento, vê...

Sobrelinhas – por Carla Kühlewein

Quem nunca tentou ler o pensamento de alguém que atire a primeira pedra! Na literatura essa cobiçada habilidade não só existe como é bastante comum. Há uma porção de histórias contadas na perspectiva de um narrador que sabe (e muito bem) o que se passa na mente das personagens (e a melhor parte é que ele revela tudo pra nós!).


É de um jeito assim, revelador de pensamentos, que Roger Mello (premiado com o famoso Hans Cristhian Andersen) escreveu e ilustrou o livro ‘Em cima da hora’. A trama inicia com uma situação nada incomum: “Em cima da hora o elevador parou. Entre um andar e outro, sem mais nem menos.” e lá dentro ficaram sete pessoas: o homem de camisa verde, um palhaço, a menina, a mulher com olhar parado, o rapaz com o pacote quadrado, a outra menina e o barbudo de terno. Até aí, nenhuma novidade, temos um narrador e uma história que se inicia com um evento qualquer. Mas como a literatura tem mania de ser imprevisível… Mello vai mais além.


O livro é divido em sete capítulos, um para cada pessoa que fica presa no elevador. Assim ficamos sabendo tudo, absolutamente tudo o que se passa na cabeça de cada uma delas. Porém, isso não é revelado pelo narrador, mas por elas mesmas. Quer ver só? O capítulo do homem de camisa verde começa assim: “Aposto que ninguém neste elevador sabe no que eu estou pensando” (ele nem imagina que o leitor sabe); já o capítulo do palhaço (como era se esperar) começa engraçado: “Tenho que fazer uma cara melhorzinha, senão essas duas meninas vão achar que eu não sou palhaço”. E por aí vai…


De alguma forma, somos incluídos na história, como se estivéssemos presos no elevador junto com as personagens e naquele mesmo instante, testemunhando tudo o que acontece. Desfrutamos, assim, de uma posição privilegiada: primeiro porque podemos ler o pensamento dos outros, segundo porque ninguém pode ler o nosso (nem o narrador).


Pra nossa sorte, quando o mundo real nos priva de algo, a ficção nos concede em abundância. Ao menos ela nos permite revelar o que guardamos cá dentro e (vez ou outra) descobrir o que outros carregam no coração.

Carla Kühlewein é graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).

Picture of Carla Kühlewein

Carla Kühlewein

Compartilhe:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

VEJA TAMBÉM:

Religião

Andar em Cristo

Por Humberto Xavier Rodrigues Ao entregamos nossas vidas ao Senhor, tudo o mais não é senão um conhecimento do que Ele é em nós, como

Cultura

Retrospectiva Séries 2024

Por Samuel M. Bertoco Depois de falar mal do que passou, vamos para o que ainda vai passar. Lembrando que Ruptura, Sandman e o spin-off