Por Monsenhor José Ágius
Lendo com atenção o Evangelho de Nosso Senhor Jesus, percebemos que Ele nos admoesta a não nos apegarmos aos bens deste mundo, simplesmente porque não viveremos para sempre aqui na terra, já que nossa pátria definitiva é o Céu. Seria má interpretação do que Nosso Senhor nos quer fazer pensar que todas as coisas do mundo devem ser desprezadas. Lê-se na Bíblia: “Deus criou o homem e a mulher… Deus os abençoou … Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era muito bom (Gênesis 1,28-31). Portanto, desprezar tudo por ser material e só aceitar o que é espiritual seria um erro. Há a necessidade de um meio-termo, como nosso bom povo diz: “a virtude está no meio”, e ela se chama temperança. No Catecismo da Igreja Católica está escrito: “A temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados”.
É a eterna luta que somos levados a manter todos os dias, para que não nos deixemos pelos instintos, pelos sentidos, sem o uso da inteligência. É por isso que devemos rezar todos os dias, para que Deus nos dê a sua graça, a fim de termos a força de não nos deixarmos levar para o mal pelos sentidos, mas usarmos da inteligência iluminada por Deus, para sabermos distinguir o que nos serve daquilo que não nos serve. No livro do Eclesiástico 18,30 se lê: “Não te deixes por tuas más inclinações, e refreia os teus apetites”. Mantido esse equilíbrio, por graça do Senhor, passaremos a preparar nosso Céu com as coisas materiais que nos cercam. Lembremo-nos de que Deus disse que tudo era muito bom.
Portanto, o dinheiro honestamente recebido por nosso trabalho, e em si mesmo e neutro: tanto pode servir para a vaidade e ser guardado pelo avarento, quanto ser partilhado com quem precisa e para ajudar a manter projetos sociais e obras da caridade. Está em nossas mãos dar o destino bom ou ruim a todas as coisas criadas por Deus. Neste ponto, não pensemos que a avareza atinge só quem possui muito dinheiro; um pobre pode comer todo o alimento que acabou de ganhar ou dividi-lo com um companheiro que também está com fome. Por que partilhar? Porque Cristo está no outro! Partilhar, pois, e devolver ao Senhor o que ele nos confiou: nosso pão, nosso tempo, nossa atenção, nossa acolhida, nosso amor. Se compreendermos essas coisas, seremos felizes, sob a condição de que as pratiquemos.
Monsenhor José Ágius