Sobrelinhas – por Carla Kühlewein
Exibir as verdades por trás dos contos de fadas, supostamente ocultas durante muito tempo, tem sido uma estratégia largamente adotada por autores(as) de livros literários no Brasil e no mundo. Vários deles optam em contar uma história já conhecida, mas com revelações novas, como se sempre tivessem existido (só não eram divulgadas). Essa prática pode ser denominada de “releitura”, uma maneira de nos levar a repensar o que julgávamos conhecer bem…
É essa a proposta do livro ‘Os três porquinhos e o lobo Lalau’, escrito por Luiz Fernando Emediato e ilustrado por Cláudio Martins. A versão apresenta um lobo que não tem nada de mau, pelo contrário… conversa com passarinhos, alimenta-se de frutas e vive em paz e tranquilidade na floresta. Até que um dia chegam Palhaço, Pedrito e Palito, três porquinhos zombeteiros que acabam com o sossego de todo mundo na floreta.
Espera aí… os três porquinhos? Sim, os próprios! Na versão de Emediato, eles fazem a maior algazarra. Mesmo quando Lalau tenta ser amigável é humilhado pelos pestinhas:
“Desde esse dia, Lalau passou a ser um lobo triste. Muitas vezes era visto andando pela floresta, protegido pela escuridão da noite. Ele levantava o focinho, olhava para a Lua e uivava como os mais terríveis lobos da floresta Negra.”
O pobre lobo fica tão assustado que foge e se esconde numa caverna. Indignados, todos os animais da floresta resolvem tomar uma medida severa contra os três porquinhos e resgatar Lalau. O final dessa história é surpreendente. Confira lá!
Tamanhas revelações nos levam a pensar (nas histórias e na vida) que podemos temer o vilão errado, e mais, que inocentamos quem de fato deveria ser punido. Seja como for, nada é o que realmente parece… No fim das contas, a grande questão é: de quem você tem medo?
Carla Kühlewein É graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).