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Eu chovo, tu choves, nós chovemos

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Sobrelinhas – por Carla Kühlewein

A sociedade moderna se especializou em construir relações entre patrão (o famoso “manda-chuva”) e empregados com base em um respeito, na maior parte das vezes, mais imposto do que conquistado. É um manda-chuva desse naipe que aparece na peça de teatro infantil de Sylvia Orthof ‘Eu chovo, tu choves, ele chove’. Mas que história é essa de “eu” e “tu” chover? Quem chove é a chuva, não? Mais ou menos…

Acontece que o protagonista da peça é o Pingo de Chuva que deseja muito chover, mas não pode fazer isso sem a permissão do Chuveiro, seu patrão elétrico e surdo:
“Pingo: Escuta, seu Chuveiro…
Chuveiro: O quê? Dinheiro? Você quer dinheiro? Não tenho! Estou com água nos ouvidos, ouviu?
Pingo: Puxa, o senhor não entende o que a gente fala!
Chuveiro: Dinheiro pra comprar bala? Ora, não tenho, estou ocupado!
[…]
Pingo: Seu patrão Chuveiro, posso ter licença pra chover hoje?
Chuveiro: Pon… pon… pon… pon… estou ocupado… pon… pon… pon…. pon…
[…]
Pingo: Puxa, patrão é sempre assim: ou está zangado ou surdo ou ocupado!”
Nesse tom de conversa maluca, Pingo consegue autorização para chover, mas precisa fazer um servicinho extra:
“Chuveiro: Mas tem uma condição de patrão: você leva esta carta para a sereia que mora no fundo da poça que vai dar no fundo do mar. A poça fica no galinheiro e o galinheiro é da galinha. Está tudo explicado no endereço. Chove depressa e leve a carta para a sereia.”

Até aí, tudo esquisito: desde quando pingo de chuva precisa pedir pra chover? E mais, que história é essa de fazer serviço particular do patrão? Não é difícil perceber que a peça problematiza a postura (abusiva) nas relações de trabalho. Por mais que Pingo se sinta desconfortável, não vê outro remédio senão obedecer. Mas no trajeto ao tal galinheiro, ele conhece outras personagens, inclusive a Ova de Peixe, que vive à sombra da Sereia, outra manda-chuva daquelas… e uma reviravolta brilhante acontece no final… Ficou na curiosidade? Corre lá ler o texto pra saber!

Este será um ano de chuvas intensas em todo o Brasil, aqui, lá, acolá, no congresso… podemos até nos perguntar quem fará chover: eu? tu? ele? No fim das contas, não importa, pois todos nós chovemos.

Carla Kühlewein É graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).

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