Por Monsenhor José Ágius
Durante muito tempo, a Igreja fomentava uma espécie de individualismo religioso: Eu e Deus, eu e minhas devoções. Alguns chegavam a dizer: eu me confesso com Deus. Outro tempo, a Igreja começou a se interessar pelas almas. Nas famosas Missões Populares do passado, se dizia “Salva tua alma”. Nunca ninguém viu uma alma, mas se rezava pelas almas e se descuidava da vida de quem convivia ao nosso lado. O conceito de amor fraterno, como proposto no Evangelho, era fazer caridade, que consistia em dar esmola. Tudo muito individualizado. Jesus pede para amar como ele amou. Jesus amava convivendo na comunidade dos Apóstolos, convivendo com seus discípulos e discípulas, colocando-se a serviço da vida.
Hoje, se vê muita atividade religiosa em função de milagres. Mas Jesus privilegia a caridade, não os milagres, e faz isso partilhando a mesa com pecadores, conversando com todos. Em todos estes atos de Jesus, encontramos o Mandamento do Amor. Nada de Jesus mandar seus discípulos num carro de som anunciando celebrações prometendo milagres e curas. Jesus propõe uma Igreja fundamentada no Mandamento Novo para conviver fraternalmente com todos. Isto inspira uma Igreja em Sínodo, em caminho fraterno com todos: um ao lado do outro.
A Palavra de Deus desmente a imagem de uma religião pautada na meritocracia, na qual cada um chegará um dia diante de Deus e mostrará o que fez de bom aqui na terra. Isso vemos nas pregações que prometem o céu para quem paga grandes dízimos, reduzindo o dízimo a um comércio financeiro com Deus. A Palavra não fala de méritos, mas de comunidade. Jesus ensina o Novo Mandamento colocando o amor como fundamento da comunidade. A Igreja é uma comunidade que está a serviço da vida humana.
Não é um supermercado para comprar graças para isso e para aquilo. É uma comunidade viva que constrói um novo céu, uma nova terra, quer dizer, um local iluminado pelo Mandamento do Amor, pela fraternidade. Uma que não suja os pés nas estradas do mundo onde pisa a humanidade, não vive a encarnação de Jesus Cristo que se fez semelhante em tudo conosco para colocar-se a serviço da vida humana.
Certo escritor, pesquisando em livros bíblicos, descobriu que o adjetivo NOVO aparece 347 vezes no Antigo Testamento e 44 vezes no Novo Testamento. Quem faz o NOVO, e não a novidade, é Deus. Deus cria um novo céu e uma nova terra para que se torne sua morada. Quando Deus termina a primeira criação, descrita no livro do Gênesis, ele a contempla e diz que tudo era bom e bonito. Mas esta criação foi manchada pelo pecado. A nova criação foi criada a partir da Ressurreição de Jesus, destruindo a morte. Jesus é a imagem do homem novo, da mulher nova, que vive na morada de Deus. E nós, batizados na Ressurreição de Jesus, pertencemos ao tempo novo. A Igreja suplica o Espírito de Jesus porque ele faz novas todas as coisas.
Monsenhor José Ágius
.