Sobrelinhas – por Renata Vanzella dos Anjos
Quem nunca se sentiu excluído por ter algo que ninguém mais tinha e tentou mudar quem era para se encaixar em um determinado padrão? Aprender a lidar com isso é uma tarefa difícil, mas, para nossa sorte, existem livros que nos ajudam a encontrar o caminho, é o caso de “Amélia Poleiro”, escrito por Paulo Renato da Silva e ilustrado por Victor Marques.
Com linguagem envolvente e ilustrações vibrantes, conhecemos a história de Amélia Poleiro, uma menina que detesta seu nome (um tanto exótico), cuja “tradução forçada – e errada – lhe tirou o glamour, mas não o orgulho. Por muito tempo guardou o orgulho para si, sem coragem de exibi-lo”, como o início do livro nos revela. Para batizar a menina, sua mãe se inspirou em Amelie Poulan, personagem de um filme que adorava. Mas ela morreu antes de conhecer a filha e, portanto, a escolha do nome foi seu último desejo. No entanto, tia Gilda foi proibida pelo cartório de dar à menina um nome francês, então precisou adaptar para Amélia Poleiro: “pensou que era o mais parecido possível com o desejo da mãe de Amélia”.
Assim, a garota cresceu suportando piadas maldosas a respeito de seu nome. Nem mesmo amigos conseguiu fazer, já que as crianças a consideravam muito nova para um nome como aquele. E quem poderia culpá-las, se nem mesmo ela gostava dele? Então, cresceu sozinha, apenas com a companhia das tias e da avó.
Conforme avançamos na leitura, sua tristeza e solidão ficam evidentes, quase palpáveis. E (diga-se de passagem) as ilustrações contribuem para isso, já que, muitas vezes, nos ajudam a torcer pela realização do maior desejo de Amélia Poleiro: mudar seu nome. Afinal, não é fácil fugir do padrão e ser diferente dos demais… ela mesma chega a essa conclusão, quando constata: “As pessoas se vestiam iguais. Caminhavam iguais. Cumprimentavam-se iguais, com as mesmas palavras e gestos. Comiam as mesmas comidas. Acordavam, tomavam café, almoçavam, jantavam e se deitavam sempre nos mesmos horários. Aprendiam uma profissão e seguiam nela por toda a vida”.
Não é surpresa que – tal como Amélia Poleiro – tenhamos dificuldades em assumir o que nos tornam únicos. Às vezes, é mais fácil “seguir o fluxo” do que ressignificar nossa identidade. Afinal, por que simplesmente não nos orgulharmos de sermos diferentes?
Em tempo: O livro “Amélia Poleiro” está disponível para ler/ouvir gratuitamente em: https://bibliotecagralhaazul.com.br/amelia-poleiro/
Renata Vanzella dos Anjos é graduanda do curso de Letras Português da Unespar/ Apucarana.